Por Marcos de Sá Masagão
São vários os motivos que fazem da atividade de "trader" uma das com maior componente emocional. O mercado é um mundo à parte, onde tudo acontece com maior intensidade se comparado com outros setores da economia. O mercado é sempre o primeiro a absorver e reagir a notícias ou fundamentos de impacto, positivos ou negativos.
Na maioria das profissões, o ciclo de realização e de materialização dos resultados é distribuído no tempo. Nos mercados, a sua competência é checada objetivamente e o acerto de contas é diário. Acertou, levou. Errou, pagou.
Nesse universo, você encontra milhares de pessoas com cabeças diferentes, analisando um monte de noticias e dados, esperados ou imprevistos, e emitindo relatórios e opiniões contrárias. Ao mesmo tempo, esses inúmeros agentes reagem nas bolsas, abrindo, fechando ou "estopando" posições. Para aumentar a tensão, você é obrigado a tomar decisões rápidas, inesperadas e, em alguns momentos, no sentido contrário ao que vinha apostando.
Você também vai ter que lidar com o sentimento de perda. Operar nos mercados é tentativa e erro. Mas temos certa resistência para reconhecer erros, não cortando logo os prejuízos. E, quando acertamos, encerramos a posição antecipadamente, alimentando o ego, mas saindo precipitadamente da aplicação e não deixando o lucro correr.
A impulsividade é mais um comportamento para o "trader" ficar atento. O mercado é uma vitrine de tentações, onde nos deparamos com enormes oscilações de um dia para outro. Somando-se às tentações, você ainda vai conviver com outros "traders", que só contam vitórias, nunca as derrotas. Tentações geram impulsividade e posições precipitadas ou atrasadas, normalmente deficitárias.
O ego de um "trader" pode ir do céu ao inferno em questão de minutos. Uma sucessão de acertos turbina a autoconfiança e a sensação de que estamos no total controle do mercado. O excesso de confiança gera euforia e ganância, que se refletem no exagero do tamanho de novas posições, ou em apostas por meio de instrumentos mais alavancados e arriscados.
O ego inflado também resulta em cegueira aos sinais mais óbvios de mudança de tendência, que ficam ofuscados pela excessiva autoconfiança. É comum, após um período de lucros, devolvermos boa parte deles em uma única aposta. Por isso, tenha sempre a consciência de que o mercado é soberano e uma hora te pegará com o pé trocado. Respeite o mercado.
Se uma sucessão de acertos leva à ganância, repetidos erros criam baixa estima, insegurança e medo. E o medo é um dos piores inimigos que um "trader" pode ter. O "trader" medroso vê o sinal de entrada no mercado, mas sempre espera mais um pouco para confirmar e acaba entrando atrasado. Na hora de sair da operação, o trader se apavora com a possibilidade da perda, "estopando" a posição antes mesmo que o sinal de saída seja confirmado.
Um "trader" com baixa estima e inseguro, descrente da sua capacidade e de suas ferramentas de análise, passa a apoiar as decisões na opinião alheia, ou ainda, sai à procura de sistemas mais rígidos e automatizados, com menor intervenção pessoal.
Ao depender da opinião de terceiros ou robotizar excessivamente seu comportamento, o "trader" anula sua capacidade de análise e sensibilidade de mercado. E mais, perde a identidade e independência na avaliação do cenário, fatores imprescindíveis para o sucesso na atividade. Maria vai com as outras não funciona nos mercados.
O "trader" deve se exercitar, parar de pensar com a sua cabeça apenas e começar a pensar com a cabeça do mercado, dos grandes. Os preços mudam de direção de uma hora para outra, muitas vezes de forma misteriosa e em velocidade maior do que a nossa capacidade de elaboração. É preciso estar aberto e preparado para acompanhar e encarar essas variações.
Pensar com a cabeça do mercado é observar a reação dos agentes aos fundamentos e notícias e seus reflexos nos preços e no posicionamento dos grandes. É não se fixar a uma ideia ou padrão, não ser premeditado ou preconcebido. É deixar-se guiar pelos ventos do mercado.
Por meio da mudança de postura, você se liberta do apego à opinião pessoal e fica livre para navegar nos movimentos direcionais que estão prevalecendo, ainda que não concorde. Não tente explicar, tente entender os mercados.
Marcos de Sá Moreira Masagão é diretor da Future Analysis Consultoria