Bolsa em queda, dólar disparando e instabilidade política farão economia retroceder e ainda podem impedir que o País receba investimentos
Os
primeiros sinais de recuperação da economia foram frustrados após
as denúncias que atingiram o presidente da República, Michel Temer.
Segundo analistas de mercado, a nova indefinição quanto ao rumo
político do País vai fazer com que a recessão econômica persista
um pouco mais.
Em
delação premiada o presidente da JBS, Joesley Batista, afirmou ter
gravações em que o presidente, Michel Temer, teria comprado o
silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba.
O pagamento de propina serviria para tentar impedir que as
investigações da Lava Jato fossem contra os interesses políticos
do atual governo.
Na
opinião do economista e diretor de câmbio da FB Capital, Fernando
Bergallo, as acusações minaram as chances da continuidade da
recuperação econômica brasileira. “Essa fato foi um balde de
água fria no momento em que a economia começava a pegar tração
para o caminho da retomada do crescimento”, disse ele em entrevista
ao Brasil Econômico.
Bergallo
explicou que a nova instabilidade no cenário econômico trará uma
nova leva de desconfiança no mercado externo e isso pode afugentar
os investimentos previstos no País, uma vez que o mercado já tinha
precificado a aprovação das reformas trabalhistas e previdenciária.
“No mercado a aprovação das reformas, em especial a da
Previdência, era dado como certa. Com as denúncias as chances de
aprovação são mínimas e isso faz com que os investimentos tenham
novo recuo”, explicou ele.
Mercado financeiro
Bergallo
afirmou ainda que o reflexo negativo do novo escândalo repercutiu de
forma imediata no mercado financeiro. “A bolsa de valores iniciou a
operação em queda de 10% e foi necessário acionar o circuit
breaker. Isso aconteceu duas vezes nos últimos 15 anos e mostra que
o mercado não reagiu bem aos fatos”.
Em
1999, a Bovespa usou o recurso, que para as negociações por 30
minutos esperando a normalização dos indicadores e impedindo um
colapso financeiro, quando foi anunciada a adoção do câmbio livre
no País, no governo de Fernando Henrique Cardoso. O segundo evento
foi durante a crise de 2008, em que em uma mesma semana no mês de
outubro, o mecanismo foi acionado três vezes.
“O
cenário não podia ser pior com a Bolsa despencando e o dólar
disparando. O planejamento de investimentos será paralisado e o que
paralisa o mercado é a incerteza, já que não se sabe se Temer vai
renunciar após o escândalo ou teremos um novo processo de
impeachment”, enfatizou o especialista.
O
dólar começou o dia com valorização de 8% e após a abertura do
mercado às 10h, está cotado a R$ 3,43. Bergallo explicou que a
cotação na casa dos R$ 3,50 foi vista no País em junho de 2015,
durante o auge da crise econômica. Em sua análise, a moeda
norte-americana deve apresentar alta de 3% durante esse momento
turbulento. Vale ressaltar que o dólar já esteve cotado em R$ 4,20
entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016 e a tendência é que o
cenário se repita, já que o Banco Central precisou intervir e fazer
um leilão de swap cambial para conter a alta da moeda estrangeira.
Fernando
Bergallo, quando questionado sobre um possível prejuízo das
empresas estatais listadas na Bolsa de Valores virem a ter, já que
todas estão sendo negociadas em queda – a da Petrobras, por
exemplo, está sendo negociada em queda de 18% – afirmou que pode
acontecer uma recuperação muito em breve, já que investidores “com
estômago” podem aproveitar essa desvalorização para comprar os
ativos e lucrarem no futuro. “Os investidores com bastante apetite
e visão de longo prazo podem aproveitar o momento para comprar as
ações esperando os resultados no futuro”, explicou a enfatizar
que o País não vai falir, mesmo com todos os todos os percalços
enfrentados nos últimos três anos.
Sobre
um rebaixamento das perspectivas pelas agências de risco neste
momento, Bergallo explicou que elas não são rápidas o suficiente
para tirar a perspectiva do Brasil neste momento. “Elas não são
tão dinâmicas para uma mudança agora”, concluiu o especialista.
Defesa
O
Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
manifestaram-se sobre a movimentação do mercado e afirmaram estar
acompanhando de perto toda a movimentação. Em nota a CVM informou
que está atenta a todo o cenário para impedir que empresas de
capital abertas sejam prejudicadas pelo cenário político. “A CVM
comunica que os fatos e desdobramentos envolvendo companhias abertas
ou outros participantes do mercado de valores mobiliários referentes
à Operação Lava Jato vêm sendo devidamente analisados pela
Autarquia, à luz do seu mandato legal nos termos da Lei nº 6.385/76
e dos acordos de cooperação que mantém com o Ministério Público
Federal e a Polícia Federal, sendo que novas ocorrências serão
devidamente apuradas e incorporadas nas análises”.
Mais uma bomba
O
novo escândalo envolvendo a presidência fez com que o mercado
financeiro entrasse em colapso nesta quinta-feira (18). A Bovespa
começou o pregão em queda de 10% e para impedir prejuízo acionou o
circuit breaker, que interrompe o pregão por meia hora para
normalização dos indicadores.
No
mercado internacional a repercussão foi tão negativa quanto, os
ativos brasileiros foram negociados em queda e as ações das
empresas brasileiras de capital aberto: Petrobras, Vale, Embraer e
outras despencaram com a notícia de pagamento de propina por parte
do atual presidente Michel Temer para interromper as investigações
da Lava Jato.
Projeções
recentes da equipe econômica de Michel Temer sinalizavam que a
recessão estava finalizada. De acordo com o ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, a previsão do governo é que no último
trimestre deste ano haja crescimento de 2,7% do Produto Interno Bruto
(PIB) na comparação com o mesmo período de 2016. O ministro
destacou que a projeção de crescimento para a economia ao final do
ano é menor, de 0,5%, indicador esse revisto pelo governo
recentemente, quando a estimativa era de PIB em alta de 1%. A
inflação está com viés de baixa assim como o taxa básica de
juros – Selic, que vem de sucessivas quedas desde o ano passado e
está estimada em 11,25% ao ano.
Fonte:
Economia
- iG