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quinta-feira, 18 de maio de 2017

Economia emperra após acusações contra Michel Temer, diz especialista

Bolsa em queda, dólar disparando e instabilidade política farão economia retroceder e ainda podem impedir que o País receba investimentos

Os primeiros sinais de recuperação da economia foram frustrados após as denúncias que atingiram o presidente da República, Michel Temer. Segundo analistas de mercado, a nova indefinição quanto ao rumo político do País vai fazer com que a recessão econômica persista um pouco mais.

Em delação premiada o presidente da JBS, Joesley Batista, afirmou ter gravações em que o presidente, Michel Temer, teria comprado o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba. O pagamento de propina serviria para tentar impedir que as investigações da Lava Jato fossem contra os interesses políticos do atual governo.
Na opinião do economista e diretor de câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo, as acusações minaram as chances da continuidade da recuperação econômica brasileira. “Essa fato foi um balde de água fria no momento em que a economia começava a pegar tração para o caminho da retomada do crescimento”, disse ele em entrevista ao Brasil Econômico.
Bergallo explicou que a nova instabilidade no cenário econômico trará uma nova leva de desconfiança no mercado externo e isso pode afugentar os investimentos previstos no País, uma vez que o mercado já tinha precificado a aprovação das reformas trabalhistas e previdenciária. “No mercado a aprovação das reformas, em especial a da Previdência, era dado como certa. Com as denúncias as chances de aprovação são mínimas e isso faz com que os investimentos tenham novo recuo”, explicou ele.


Mercado financeiro

Bergallo afirmou ainda que o reflexo negativo do novo escândalo repercutiu de forma imediata no mercado financeiro. “A bolsa de valores iniciou a operação em queda de 10% e foi necessário acionar o circuit breaker. Isso aconteceu duas vezes nos últimos 15 anos e mostra que o mercado não reagiu bem aos fatos”.
Em 1999, a Bovespa usou o recurso, que para as negociações por 30 minutos esperando a normalização dos indicadores e impedindo um colapso financeiro, quando foi anunciada a adoção do câmbio livre no País, no governo de Fernando Henrique Cardoso. O segundo evento foi durante a crise de 2008, em que em uma mesma semana no mês de outubro, o mecanismo foi acionado três vezes.
O cenário não podia ser pior com a Bolsa despencando e o dólar disparando. O planejamento de investimentos será paralisado e o que paralisa o mercado é a incerteza, já que não se sabe se Temer vai renunciar após o escândalo ou teremos um novo processo de impeachment”, enfatizou o especialista.
O dólar começou o dia com valorização de 8% e após a abertura do mercado às 10h, está cotado a R$ 3,43. Bergallo explicou que a cotação na casa dos R$ 3,50 foi vista no País em junho de 2015, durante o auge da crise econômica. Em sua análise, a moeda norte-americana deve apresentar alta de 3% durante esse momento turbulento. Vale ressaltar que o dólar já esteve cotado em R$ 4,20 entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016 e a tendência é que o cenário se repita, já que o Banco Central precisou intervir e fazer um leilão de swap cambial para conter a alta da moeda estrangeira.
Fernando Bergallo, quando questionado sobre um possível prejuízo das empresas estatais listadas na Bolsa de Valores virem a ter, já que todas estão sendo negociadas em queda – a da Petrobras, por exemplo, está sendo negociada em queda de 18% – afirmou que pode acontecer uma recuperação muito em breve, já que investidores “com estômago” podem aproveitar essa desvalorização para comprar os ativos e lucrarem no futuro. “Os investidores com bastante apetite e visão de longo prazo podem aproveitar o momento para comprar as ações esperando os resultados no futuro”, explicou a enfatizar que o País não vai falir, mesmo com todos os todos os percalços enfrentados nos últimos três anos.
Sobre um rebaixamento das perspectivas pelas agências de risco neste momento, Bergallo explicou que elas não são rápidas o suficiente para tirar a perspectiva do Brasil neste momento. “Elas não são tão dinâmicas para uma mudança agora”, concluiu o especialista.


Defesa

O Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) manifestaram-se sobre a movimentação do mercado e afirmaram estar acompanhando de perto toda a movimentação. Em nota a CVM informou que está atenta a todo o cenário para impedir que empresas de capital abertas sejam prejudicadas pelo cenário político. “A CVM comunica que os fatos e desdobramentos envolvendo companhias abertas ou outros participantes do mercado de valores mobiliários referentes à Operação Lava Jato vêm sendo devidamente analisados pela Autarquia, à luz do seu mandato legal nos termos da Lei nº 6.385/76 e dos acordos de cooperação que mantém com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, sendo que novas ocorrências serão devidamente apuradas e incorporadas nas análises”.


Mais uma bomba

O novo escândalo envolvendo a presidência fez com que o mercado financeiro entrasse em colapso nesta quinta-feira (18). A Bovespa começou o pregão em queda de 10% e para impedir prejuízo acionou o circuit breaker, que interrompe o pregão por meia hora para normalização dos indicadores.
No mercado internacional a repercussão foi tão negativa quanto, os ativos brasileiros foram negociados em queda e as ações das empresas brasileiras de capital aberto: Petrobras, Vale, Embraer e outras despencaram com a notícia de pagamento de propina por parte do atual presidente Michel Temer para interromper as investigações da Lava Jato.
Projeções recentes da equipe econômica de Michel Temer sinalizavam que a recessão estava finalizada. De acordo com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a previsão do governo é que no último trimestre deste ano haja crescimento de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) na comparação com o mesmo período de 2016. O ministro destacou que a projeção de crescimento para a economia ao final do ano é menor, de 0,5%, indicador esse revisto pelo governo recentemente, quando a estimativa era de PIB em alta de 1%. A inflação está com viés de baixa assim como o taxa básica de juros – Selic, que vem de sucessivas quedas desde o ano passado e está estimada em 11,25% ao ano.


segunda-feira, 15 de maio de 2017

'Prévia do PIB' cresce 1,12% e sinaliza retomada da economia no 1º trimestre

O desempenho do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) do primeiro trimestre reforça a expectativa do mercado de que o Produto Interno Bruto (PIB) deve voltar a apresentar um número positivo no primeiro trimestre, após uma sequência ininterrupta de oito trimestres de retração na comparação com o período imediatamente anterior. Essa é a avaliação de economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast logo após a divulgação do indicador do BC nesta segunda-feira, 15.



Contudo, dizem os especialistas, o avanço esperado no PIB condiz mais com um cenário de estabilização da economia do que com uma recuperação consistente da atividade. Isso principalmente porque o resultado do primeiro trimestre é bastante influenciado por fatores pontuais e pode ser parcialmente revertido entre abril e junho. O fator principal é a influência da agropecuária, que deve mostrar forte crescimento no PIB do período, mas deve diminuir a intensidade ao longo do ano.

A forte de revisão dos dados do comércio e nos serviços em janeiro, em função das mudanças metodológicas nas pesquisas, também colabora para um PIB mais robusto na primeira parte do ano. Para o resultado do PIB de 2017, os economistas avaliam que o cenário não mudou, com expectativa de crescimento modesto, em linha com a estimativa de recuperação lenta e gradual da economia.
O IBC-Br avançou 1,12% no primeiro trimestre ante o quarto, em linha com a mediana da pesquisa do Projeções Broadcast, de 1,10%, a partir do intervalo de 0,60% a 1,30%. Em março, contudo, o indicador recuou 0,44%, taxa melhor que a mediana prevista, de queda de 0,90% (intervalo de -2,50% a zero).

"Esses números reforçam a expectativa de recuperação lenta e gradual da economia, que também está espalhada nos números setoriais, com oscilações entre alta e baixa. O PIB do segundo trimestre deve ter alguma devolução da alta do primeiro trimestre, mas o importante é que a tendência é de estabilização", resume o economista-chefe do Rabobank Brasil, Mauricio Oreng. O economista estima crescimento de 1,3% de janeiro a março e variação zero neste ano.

O economista do Santander Rodolfo Margato, que prevê 1,1% para o PIB do período, calcula que metade dessa expectativa se deve à agropecuária, com contribuição de 0,6 ponto porcentual graças ao crescimento de 11,5% do setor. "O PIB do 1º trimestre deve ser uma notícia positiva, mas pontual, não podemos esperar um crescimento neste ritmo médio nos trimestres seguintes", diz.

O economista da Tendências Bruno Levy reforça que teria ocorrido um "estrago" na leitura da atividade medida pelo Banco Central se o IBC-Br de março e do primeiro trimestre dependessem apenas dos dados de comércio, serviços e indústria.

Margato também argumenta que a revisão forte no volume de serviços prestados em janeiro (de queda de 2,2% para estabilidade) depois da mudança metodológica na pesquisa deve contribuir com 0,3 ponto porcentual para o PIB do primeiro trimestre. "É relevante, porque antes esperava-se que o setor ia seguir em queda no período."

Diante disso, a dúvida que fica é sobre o desempenho da economia no segundo trimestre, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em razão das oscilações dos dados mensais. "Além disso, deve ter o carrego estatístico ruim de março, quando os indicadores de atividade tiveram queda. Depois, no terceiro trimestre, pode ganhar mais força", acrescenta o economista da GO Associados Luiz Castelli ao referir-se ao resultado do PIB de abril a junho. No ano, a estimativa é de crescimento de 0,6%.

Já o economista Mauricio Nakahodo, do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group), dono do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil, espera que o avanço econômico previsto na primeira parte do ano se repita nos próximos trimestres, mas com maior participação da indústria, comércio e serviços. No primeiro trimestre, a sua expectativa de aumento de 0,4% do PIB deriva do desempenho da agropecuária e da mineração.

Copom. Diante da proximidade do encontro deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), os analistas consultados concordaram que os dados de atividade, além de inflação controlada, ainda deixam espaço para o BC acelerar o ritmo de corte da Selic. "Tem espaço para um corte mais agressivo. Depois, pode voltar a reduzir o ritmo para 1 ponto", avalia Castelli, da GO, que estima redução da Selic para 10%, do atual patamar de 11,25%.
Contudo, alguns analistas acreditam que, para tal movimento, o BC precisa ver um cenário mais claro de aprovação da reforma da Previdência. Segundo Margato, do Santander, para a autoridade monetária optar por corte maior que de 1,0 ponto porcentual é preciso não somente que a proposta seja aprovada em 1º turno no plenário da Câmara, mas também que o placar seja favorável. "Ainda assim, é mais provável que o impacto seja para a estimativa da Selic no final do ano e não diretamente para maio", diz Margato, que espera 8,5% para a taxa no fim de 2017.

Fonte: O Estadão