Como investir em empresas que não têm ações na Bolsa
São Paulo – A Performa Investimentos, gestora especializada em fundos que investem em participações em empresas, abriu para captação o primeiro fundo de venture capital do Brasil a fazer uma oferta pública de cotas a investidores em geral. Trata-se de um Fundo Mútuo de Investimentos em Empresas Emergentes (FMIEE), voltado para empresas de tecnologia inovadora, do qual poderão participar investidores pessoas físicas que ainda não entram na categoria “qualificados”, isto é, que não chegam a ter 300.000 reais em aplicações financeiras.
Os poucos fundos de private equity brasileiros que aceitam aplicações de pessoas físicas exigem que esses investidores sejam qualificados. Mas no Performa Investimentos SC-I, até o valor da cota é baixo para esse tipo de fundo: 20.000 reais. Humberto Matsuda, sócio da Performa, explica que a gestora tem mais de 80 clientes pessoas físicas que atuam também como investidores-anjo. Para que todos eles tivessem oportunidade de investir no fundo, a Performa teve que promover a oferta pública, conforme manda a legislação para fundos com mais de 30 cotistas.
“Acabou que essa exigência nos permitiu dar uma oportunidade a investidores que já sabem como os fundos de venture capital funcionam, gostariam de investir, mas não querem alocar de cara uma quantia alta, como um milhão de reais. Será uma maneira de as pessoas testarem esse tipo de aplicação”, observa Matsuda.
Rentáveis, mas muito arriscados
Apesar do tíquete baixo, esta não é uma aplicação para qualquer investidor. O potencial de rentabilidade é grande, mas os riscos de se investir em empresas inovadoras com projetos iniciantes é altíssimo, e devem ser assumidos apenas como forma de diversificação por quem já tem bons conhecimentos sobre o mercado financeiro. Não à toa também são chamados de fundos de capital de risco.
“Os fundos de venture capital compram participações em empresas de capital fechado até que elas se tornem atraentes para serem vendidas. É um processo longo, com exposição total aos riscos da empresa, e sem liquidez alguma no meio do caminho”, explica Humberto Matsuda. Esses fundos costumam durar de cinco a dez anos – no caso do fundo da Performa, são sete anos, prorrogáveis por mais dois.
Isso significa que, durante o período de duração do fundo, não há como se desfazer das cotas, mesmo que as empresas estejam indo mal. “O investimento deve durar até o momento da venda ou liquidação das empresas. Caso a empresa não encontre um comprador privado, por exemplo, corre-se o risco de perder a totalidade do investimento”, alerta Matsuda.
A rentabilidade, porém, é proporcional ao risco. “Necessariamente, o retorno tem que ser maior que o de Bolsa. No Brasil, a média de rentabilidade no mercado de fundos desse tipo é de 50% ao ano, e é isso que o nosso fundo persegue”, diz Matsuda.
Por aplicarem em empresas em estágio inicial, de baixo ou nenhum faturamento, os fundos de venture capital têm boas chances de multiplicar o capital investido. “Uma empresa que fatura apenas um ou dois milhões de reais pode pular para um faturamento de quatro ou cinco milhões com facilidade. Uma grande empresa, por outro lado, tem uma inércia maior para crescer”, explica o sócio da Performa.
Outra vantagem dos fundos de capital de risco é o fato de investirem diretamente na economia real. O investimento é concentrado em poucas empresas, mas por não serem abertas em bolsa, não há o risco de volatilidade por especulação.
Quem pode investir
Mesmo aberto a qualquer investidor pessoa física, o Performa Investimentos SC-I demanda que o investidor tenha bons conhecimentos sobre o mercado financeiro, além de uma quantia que possa ficar imobilizada por pelo menos sete anos. É importante também que o investimento seja encarado como forma de diversificação do portfólio. Isto é, a maior parte do capital do investidor deve estar alocada em outras aplicações, mais líquidas.
De acordo com Humberto Matsuda, nos Estados Unidos, os investidores dedicam de 0,5% a 3% de seu portfólio a investimentos como os fundos de venture capital, dependendo de seu perfil de risco. “Por essas razões, é provável que o fundo da Performa acabe atraindo investidores qualificados mesmo”, acredita. A vantagem é que quem não está acostumado, não precisará fazer um grande aporte para se beneficiar da rentabilidade.
Para as pessoas físicas estão disponíveis 260 cotas, que totalizam um valor de 5.200.000 de reais. As demais 1.040 cotas ficarão em poder de grandes investidores, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa federal de fomento, a Nossa Caixa Desenvolvimento, agência de fomento do estado de São Paulo, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além da própria administradora.
O patrimônio do fundo deverá totalizar 26 milhões de reais. A taxa de administração é de 3% ao ano, e é cobrada uma taxa de performance de 20% sobre o lucro. Conheça, na próxima página, as empresas em que o fundo da Performa vai investir.
Seis empresas inovadoras
O Performa Investimentos SC-I já escolheu seis empresas inovadoras que receberão seus recursos em forma de participação. Além do dinheiro, elas terão que aceitar certo grau de interferência na gestão, com orientações sobre governança corporativa. “Num fundo desse tipo, a capacidade de mudar o nível de risco por meio da governança é muito grande. A empresa tem que se acostumar a prestar contas”, diz Humberto Matsuda.
Entre as selecionadas estão empresas que atuam nos ramos de tecnologia da informação, biotecnologia, nanotecnologia, aplicações médicas e energias limpas e sustentáveis. No ramo de TI, uma empresa de internet, que aposta em mídias sociais para gestão de programas de relacionamento e fidelidade. Já entre as sustentáveis, uma empresa que desenvolveu uma tecnologia 100% brasileira para converter hidrogênio em eletricidade, cujo único resíduo é a água; e outra que desenvolveu um método de aquecimento solar para sistemas de água.
Há também uma companhia que desenvolveu um software de gestão de tempo para equipes; outra que criou um meio de pagamentos via celular apenas com o número do cartão de crédito ou débito – ideal para ambientes e profissionais que não podem utilizar um sistema de pagamento convencional; e até uma empresa que cria diamantes artificiais a partir de um reator de plasma que rearranja átomos de carbono.
“Já existem tecnologias desse tipo, mas a dessa empresa é a primeira viável economicamente, pois seu custo é muito baixo. Os diamantes artificiais são necessários em diversas indústrias, desde o desenvolvimento de brocas dentárias, até perfuração de poços de petróleo”, explica Matsuda.
De acordo com o sócio da Performa, todas as empresas selecionadas têm alto grau de vantagem competitiva em seus mercados. “Procuramos empresas que pudessem colocar seus produtos em mercados onde ainda não existe concorrência, para conseguir, inicialmente, um monopólio natural. Todos os competidores que surgirem depois estarão em séria desvantagem”, diz Matsuda.