A
crise financeira da Grécia, país de apenas 11 milhões de
habitantes, pode ter profundas implicações para a economia mundial
e a União Europeia. Há temores de que um agravamento da crise leve
a um eventual calote da dívida grega e que países como Portugal,
Itália, Espanha e Irlanda acabem seguindo pelo mesmo caminho.
Investidores observam com preocupação os cenários previstos por
especialistas, como o de vários países sendo forçados a cortar
drasticamente os seus gastos públicos e elevando taxas de juros para
poder pagar suas dívidas, ou o de países deixando a chamada zona do
euro e provocando uma dissolução da União Europeia.
Outro
temor é em relação aos prejuízos dos bancos que emprestaram
dinheiro a esses países, perdas que podem levar a uma nova crise de
crédito. O déficit no orçamento grego, ou seja, a diferença entre
o que o país gasta e o que arrecada, foi, em 2009, de 13,6% do PIB,
um dos índices mais altos da Europa e quatro vezes acima do tamanho
permitido pelas regras da chamada zona do euro. Sua dívida está em
torno de 300 bilhões de euros (o equivalente a US$ 400 bilhões ou
R$ 700 bilhões) e parte desse montante – cerca de US$ 12,5 bi -
venceu no dia 19 de maio.
Para
honras seus compromissos, a Grécia deve receber, ao longo de três
anos, um pacote de cerca de 110 bilhões de euros (aproximadamente
US$ 140 bilhões), que inclui a participação de países da zona do
euro e do FMI. Entretanto, para conseguir esse empréstimo, o governo
grego precisará cortar gastos e aumentar impostos – medidas
previstas em um pacote de austeridade aprovado pelo parlamento do
país.
A
BBC preparou uma sessão de perguntas e respostas para ajudar a
entender o que está em jogo nessa crise.
Por
que a Grécia está nessa situação?
A
Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo
empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente
dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os
salários do funcionalismo praticamente dobraram. Enquanto os cofres
públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era atingida pela
evasão de impostos.
A
Grécia estava completamente despreparada quando chegou a crise
global de crédito e em 2009, registrou déficit orçamental de 13,6%
do PIB e enfrenta atualmente uma dívida de 300 bilhões de euros. O
montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais
dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos
empréstimos. Essa situação é particularmente preocupante, porque
a Grécia depende de novos empréstimos para refinanciar mais de 50
bilhões de euros em dívidas neste ano.
Por
que a situação causa tanta preocupação fora da Grécia?
Todo
mundo na zona do euro – e qualquer um que negocie com a zona do
euro – é afetado por causa do impacto da crise grega sobre a moeda
comum europeia. Teme-se que os problemas da Grécia nos mercados
financeiros internacionais provoquem um efeito dominó, derrubando
outros membros da zona do euro cujas economias estão enfraquecidas,
como Portugal, Irlanda, Itália e Espanha(PIIGS). Todos eles
enfrentam desafios para requilibrar suas contas.
As
preocupações foram exacerbadas pelas agências de classificação
de risco, que rebaixaram os graus de investimento de Portugal e
Espanha, além da Grécia, gerando temores sobre a capacidade desses
países de pagar suas dívidas.
O
que a Grécia está fazendo para reverter a crise?
A
Grécia apresentou planos para cortar seu déficit para 8,7% em 2010,
e para menos de 3% até 2012. Para alcançar isso, o Parlamento grego
aprovou em maio desse ano um pacote de medidas de austeridade para
economizar 4,8 bilhões de euros. O governo quer congelar os salários
do setor público e aumentar os impostos, e ainda anunciou o aumento
do preço da gasolina.
O
governo ainda pretende aumentar a idade para a aposentadoria em uma
tentativa de economizar dinheiro no sistema de pensões, já
sobrecarregado.
Como
essas medidas foram recebidas na Grécia?
De
maneira nem um pouco positiva. Houve uma série de protestos no país,
alguns violentos. Em um deles, três pessoas morreram após um
incêndio em um banco no centro de Atenas. Várias greves atingiram
escolas e hospitais e praticamente paralisaram o transporte público.
Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por
forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da
Europa central.
Os
dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de
austeridade como antipopulares e bárbaras.
O
que acontece agora?
A
União Europeia afirmou que a primeira parcela do pacote de
empréstimo será paga antes do dia 19 de maio (que não foi paga) –
data que vence parte da dívida grega. No total, cerca de 30 bilhões
de euros (R$ 70 bi).
Em
teoria, os fundos do pacote de ajuda da UE e do FMI e o pagamento de
parte da dívida deveria proporcionar uma queda nos custos de
empréstimo do governo e o euro deveria voltar a se fortalecer,
depois de ter sofrido queda nas últimas semanas por causa do medo de
a Grécia não conseguir pagar suas dívidas.
A
Grécia poderia simplesmente abandonar o euro?
Operadores
de câmbio já demonstraram medo de que alguns países com grandes
déficits no orçamento – como a Grécia, Espanha e Portugal –
possam se sentir tentados a abandonar o euro. Ao deixar a moeda
comum, o país poderia permitir a desvalorização de sua moeda e,
assim, melhorar sua competitividade.
Mas
isso também causaria grandes rupturas nos mercados financeiros,
provocando o medo entre os investidores de que outros países
adotassem a mesma estratégia, potencialmente levando ao fim da união
monetária. Mas a União Europeia já demonstrou que quer manter a
zona do euro unida e descartou a ideia de que países iriam abandonar
a moeda.
Como
a situação da Grécia se compara a de outros países?
A
Grécia não é o único país da zona do euro a violar a regra que
afirma que o déficit orçamentário não deve ultrapassar 3% do PIB
do país. Na Grã-Bretanha, que não está na zona do euro, esse
déficit chega a 13% do PIB. Na Espanha ele chega a 11,2%, na Irlanda
a 14,3% e na Itália a 5,3%.
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